Podíamos estar a ler qualquer livro neste momento, mas nenhum seria tão categórico como os que encontra nesta lista.
Se não está com vontade de ler sobre pandemias e os efeitos que estas podem ter na sociedade, esta lista pode não ser a mais indicada para si. Mas antes que saia já do artigo, queremos só dizer que os cinco livros que escolhemos pouco têm de real! São histórias totalmente vividas no mundo da ficção que nos levam a questionar a conexão humana, a esperança e a vida de caras com uma catástrofe. Neles não encontra conforto, é um facto, mas com certeza vai chegar ao fim a ver o mundo de outra forma. Vá de frente ao desconforto e leia sobre uma pandemia enquanto vivemos uma. Não se vai arrepender!
Tínhamos de começar por aqui. Não havia outra forma de começar esta listagem. O vencedor do Nobel da Literatura português publicou, em 1995, um livro sobre uma cegueira imponderável e que se alastrou à velocidade da luz. A resposta do Estado foi na ficção quase o oposto do que se passa agora no espectro real: autoritária e rígida. Este livro é tudo aquilo que se esperaria de Saramago. Uma crítica à sociedade e um desafio constante ao pensamento. Uma das conclusões: os humanos não são mais do que animais quando se veem privados de algo a que nunca deram a verdadeira importância. E se pensamos que também aqui se podia ficar pela ficção, a verdade é que no país vizinho já se viram atitudes semelhantes às contadas no livro…
Publicado em 1947 por outro Prémio Nobel da Literatura, este livro narra um estado de quarentena imposto como consequência de uma epidemia que tomou conta de uma cidade na Argélia. Oran torna-se irrespirável em 1849. Quem por lá habita entra numa espiral de sofrimento e loucura, mas também mostra sinais de compaixão. Há múltiplas formas de interpretar a obra. Uma coisa é certa: este livro é um poderoso estudo sobre a vida humana e o seu significado face a um vírus mortal que corre desenfreadamente por uma cidade, levando consigo uma vasta percentagem da população.
E aqui temos mais um Prémio Nobel. Em 1988, o escritor espanhol confidenciou, em entrevista ao TheNew York Times, que julgava as pragas como perigos imponderáveis que surpreendem pessoas, algo com a qualidade do destinável. Três anos antes tinha publicado um romance que deu a volta ao mundo dos leitores. Um conto sobre o amor quando a morte está próxima. Um pouco de humor, um pouco de poesia, um pouco de desvarios e aventuras. Há quem diga que é equiparável a Cem Anos de Solidão. É ler para crer.
Não é uma leitura fácil para qualquer um. Aliás, o autor já provou por diversas vezes que tem um talento especial para aterrorizar quem o lê. Neste livro, de 1978, conta-se a história de um paciente que escapa de uma área de testes, sem saber que carrega consigo um tipo de supergripe mutante que pode destruir a população mundial em poucas semanas. Entre um público assustado, surgem dois líderes. Um lado apela a uma comunidade pacífica. O outro encontra a razão no caos e na violência. O destino da humanidade está nas mãos de quem escolhe ou é escolhido entre um e outro.
Entre A História de Uma Serva e Os Testamentos, a autora começou e terminou uma outra trilogia que serve de aviso para os efeitos inesperados e terríveis que a tecnologia pode ter em todos nós. O primeiro volume, lançado em 2003, relata um mundo devastado pelos efeitos da engenharia genética, incluindo uma praga que destruiu grande parte da humanidade. É mais uma obra que remarca a ficção especulativa absolutamente e assustadoramente presciente de Margaret Atwood. Uma leitura obrigatória para quem se deliciou com outros livros da autora canadiana.
Não o podíamos deixar de fora, mas não porque decidimos dar azo a fake news! Ao contrário do que circulou pela Internet, esta obra de terror não é uma premonição futurística catastrófica da covid-19. O livro, publicado em 1981, narra a história do vírus Wuhan-400 que se propaga pelo mundo inteiro. Mas, numa primeira versão do livro, o micro-organismo era denominado Gorki-400, originalmente criado por russos para ser usado como arma biológica. O nome foi alterado em 1988, após o fim da Guerra Fria, e adaptado à realidade chinesa nas edições que se seguiram. Tudo coincidências, portanto. Mas talvez seja um bom livro para ler agora!
Publicado 30-Mar-2020 / 11:41